Crítica Teatral por Leonardo Torres

 

Grand Théâtre Pão e Circo faz belo retrato da sociedade do espetáculo




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A criação do monólogo “Grand Théâtre Pão e Circo” partiu de duas inspirações declaradas. Uma, a cobertura midiática dos bombardeios americanos no Iraque, em 2003. A outra, a obra “A Sociedade do Espetáculo”, do escritor Guy Debord. A baiana Carol Kahro, que escreveu, dirigiu e protagoniza a peça, ficou chocada com a transmissão da guerra ao vivo, transformada em entretenimento, e se debruçou sobre o livro para ter embasamento para tratar desse tema – a espetacularização da notícia. O resultado disso é apresentado atualmente no Rio de Janeiro e deixa uma ótima impressão do teatro contemporâneo soteropolitano. Vale dizer que a atriz foi premiada por esse trabalho e está em cartaz há seis anos.

(Foto: Divulgação)
 (Foto: Rogério Cunha)

Em cena, Carol Kahro interpreta personagens diversos e distintos com habilidade e destreza. Ela muda de um papel para outro com velocidade e voracidade impressionantes, com pouca ou nenhuma mudança no figurino – que remete ao de uma gladiadora. Ela faz um trabalho detalhado de entonação e impostação de voz para cada história – a apresentadora de um freak show convidando a plateia ao linchamento de um bandido; uma família no meio de uma troca de tiros com a polícia por um mal entendido explorado pela mídia; uma mulher ordinária abalada pela cena de uma menininha no meio de uma guerra; enfim. A encenação é surpreendente a cada virada, com apenas um momento arrastado, e Carol, como única condutora, consegue impactar a plateia como se muitas fosse.
O espetáculo é todo bem cuidado. O trabalho de cenografia e iluminação proporciona momentos ímpares. O cenário é composto pelo empilhamento de bases retangulares coloridas, com diversas telas, por onde são transmitidas trechos de programas de TV durante toda a encenação. A atriz e as histórias interagem com a videografia de maneira inteligente e fundamental para o que é “Grand Théâtre Pão e Circo”, totalmente inserido no rol dessa vertente teatral que aposta na linguagem multimídia. A trilha sonora original (de Leonardo Bittencourt) também é boa.
Trabalhando com a temática da sociedade do espetáculo, a peça tem também muito de show na direção de arte de Clarissa Ribeiro. Agrada aos olhos. Mas não para de instigar, ao espelhar e apontar, em um só segundo. É bonito de ver como texto e montagem tem o mesmo peso. A dramaturgia tem uma mensagem muito clara e a encenação a complementa, com boas sacadas nas edições dos vídeos. Eles, por si só, também comunicam. Há uma parte em que são exibidos fragmentos da programação televisiva em recortes curtos e rápidos alternados, mas a voz do Silvio Santos é martelada e enfatizada. Isso também tem seu significado – e não é um spoiler, de maneira alguma. É só um exemplo do que vale ficar atento, também, embora o próprio espetáculo te conduza para isso. Vale a pena ver.

Por Leonardo Torres
Pós-graduado em Jornalismo Cultural.

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